26/05/2021 às 11:31

A IMPORTÂNCIA DA REPRESENTATIVIDADE NA CENA SNEAKERHEAD

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7min de leitura

No dia 11 de Maio eu tive o prazer de conhecer e fotografar uma mina sneakerhead que com certeza através desses cliques que fiz e junto da entrevista, foi passada a visão que ela tem sobre a cena, o mercado de sneakers no Brasil, representatividade e quebra de padrões.

Aproveitem a matéria exclusiva com essa musa que vocês ainda vão ouvir muito falar sobre, Amanda Gomes.

Hey baes haha

Meu nome é Amanda Gomes, tenho 24 anos, sou da Zona Sul de SP, sou recepcionista bilíngue, estudante na área de marketing e amante dos sneakers.

Nas horas vagas, fico mais em casa com a família tomando uma brejinha e ouvindo música bemmm alta porque ninguém é de ferro haha. Como boa leonina, sou bem vaidosa, ainda mais depois da minha transição capilar sinto cada vez mais vontade de cuidar de mim interna e externamente, mas sem perder minha essência como amante do universo urbano (street) o que está presente na minha vida desde sempre e tentando a cada dia me conectar com a galera que se identifica com isso, assim como eu.

Amanda, quando foi que você percebeu que os sneakers eram muito mais do que "simples calçados" ou "mais um complemento do look" e virou uma paixão?

Desde criança, sempre fui muito envolvida na questão de ter tênis através do meu pai, meus tios e primos. Isso sempre esteve inserido na minha vida mesmo quando eu não tinha noção. Eu fui perceber que era muito mais do que um complemento, quando comecei a pesquisar sobre marcas, modelos e vi que tudo por trás de cada tênis bonito, existe uma história pra contar. Isso já começou desde o Jordan, que, para mim, era só um tênis, e pesquisando pude descobri que foram usados em ocasiões muito importantes pelo Michael Jordan.

Com uns 13/14 anos comecei a entender o que realmente os tênis representavam.


Quando foi que teve seu primeiro tênis de marca? Qual modelo?

Quando eu tinha 7 anos, meu pai me deu uma "botinha" da Nike, não consigo lembrar o modelo, mas de lá pra cá eu comecei a ganhar um por ano.

Foto de 2014 com a minha yellow boot que está intacta.


Esse eu tenho desde 2010.


Como você enxerga o mercado dos sneakers aqui no Brasil? Pode contar os prós e contras?

A minha curiosidade aumentou quando eu tinha entre 13 e 14 anos porque nessa idade meu pai me dava tênis de basquete infantil de uma marca que não sei se ainda existe, chamada AND1.

Muitas vezes os tênis que eu queria ter não eram possíveis porque naquela época, não chegavam na minha numeração (36-37 BR) sempre vinha entre 38 e 39 BR. Então eu não conseguia ter por falta de visibilidade aqui no Brasil.

Lá fora é muito comum ter “all size”, por isso acabou me faltando representatividade.

Já em relação aos preços, hoje em dia estão muito caros. Esses são os contras.

Os prós é que isso começou a ser desmistificado, a mulher pode usar o que ela quiser, as marcas começaram a entender isso, começaram a trazer mais tênis... 

Antes eles só traziam se eram tênis da grade feminina, mas um OG feminino aqui era muito difícil e acho incrível que mais meninas podem usar. Isso desperta a curiosidade, comprar e começar a usar, logo querer outro. Não para agregar só no seu look, é uma questão de autoestima, nós mulheres também podemos usar.

Eu vejo o mercado sneakerhead no Brasil como algo unido, não vou dizer que isso permanece agora, porque virou uma bagunça. Antes, a galera se ajudava com drop e isso era muito legal, você acaba conhecendo muitas pessoas que gostam do mesmo que você, que te ajudam, que viram amigos por conta de fila e isso é algo que eu vou levar pro resto da vida, pessoas que consegui acessar e ter contato por conta de tênis, de fila de drop e isso é maravilhoso.

Você se sente representada na cena? Se sim, fala um pouco sobre.

Representada da forma que eu gostaria que fosse, não. A representatividade que eu tive veio de fora através de rappers, gringos, negros famosos que me faziam pensar “por mais que eles sejam ricos, eu também posso usar” e eu acabei criando uma identificação de moda “masculina”. Por exemplo, Big Chain, Jay-Z, Kanye West, India Love é f#da, a Jhene Aiko, mas são pessoas que são de fora. Aqui no Brasil não consigo lembrar, eu não tenho referências. Mas graças ao pessoal de fora, eu consegui trazer isso pra mim dentro do que era acessível e isso é muito grandioso. Tipo, ver um ator negro todo arrumado e usando tênis me faz pensar “caramba, ele tá todo arrumado e com um Jordan 1 no pé”, então se eu fizer um look tal, eu posso me vestir dessa maneira também. Porém, eu gostaria que cada vez mais as meninas e os meninos se interessassem por essa cultura e que fossemos unidos, porque é algo que agrega muito.

Tem algo que você sente que deveria mudar/melhorar?

De uns tempos pra cá, eu senti que tênis é mais um objeto de desejo do que algo que você realmente gosta, por exemplo: eu tenho, eu posso, eu gosto. Ao invés de ser realmente uma conquista, agora virou uma disputa de drop, ficou chato. Parece mais bonito falar que você pagou 2, 3, 4 mil reais em um tênis pra falar que você pode pagar por aquilo, pra dizer que você tem, do que saber o por quê ele custa isso.

Acho que isso vem do pessoal que vem chegando agora, não do pessoal de antes que era mais unido. Falta união, perdeu a essência com essa nova onda. O hype tá muito forte, o pessoal tá preocupado em ter, não com a cena ou em ter amigos. Ficam fazendo leilão em cima de algo que é muito importante pra uma galera e que carrega uma tradição. Deveria mudar o sistema de drop e comunicação entre as pessoas, o pessoal deveria pesquisar mais antes e ter maior consciência sobre a cena do que pensar que é simplesmente um tênis e que seja algo banal.

Agora pra descontrair um pouco, já passou algum perrengue em fila de drop?

No lançamento do 'Dunk do Travis', acordei ceeedo, fui pra outra cidade, peguei senha numa loja, depois fui pra uma outra loja pra pegar senha para um sorteio que seria presencial. Fiquei das 6hrs até umas 19hrs e no final acabei não pegando. Fiquei sem comer, cansada, mas a vida é assim mesmo... se tiver outra vez eu faço de novo.

Dos sneakers que você tem, qual foi o mais difícil de conseguir?

Foi o 'Jordan 1 Low UNC' porque no começo da pandemia os drops eram feitos online e o site da Nike é só dor de cabeça, muito difícil, se você não tem ‘bot’ esquece...

E eu sabia que se quisesse, só conseguiria comprar por ressel, só que o tênis aumentou drasticamente o valor.

Uma semana antes do meu aniversário lançou o 'Dunk Grateful Dead', daí pelo sorteio do Instagram eu consegui comprar, depois de um tempo eu vendi ele por um preço bom porque também foi um tênis super hypado e aí eu consegui vender e com muito sacrifício eu consegui achar o meu, mas foi difícil achar na minha numeração.

Foi muito difícil, se eu não tivesse ganho o sorteio do Dunk, eu não teria ele hoje – que aliás está ainda mais caro.

Um sneaker dos sonhos?

Eu sempre muito fã da 'CW do Jordan 4', desde sempre foi um tênis que eu pesquisava e almejava muito. Quando eu tive a oportunidade de ir pra Califórnia eu consegui comprar um lá, foi um ‘FIBA’ que eu tenho muito carinho, até porque foi meu primeiro Jordan. Mas, o tênis que eu mais tenho vontade de ter é o 'Jordan 4 CW White Cement' ou o 'Military Blue' que eu fico entrando no site só pra ficar namorando. Quando eu fui pra fora, até tinha, mas acabei não comprando porque era muito caro e eu não fui com esse objetivo, fui por aventura e não tinha essa grana. Ele estava mais de U$300 na época.

Como é ser uma mina nessa cena? E qual a importância da representatividade?

É bom e ruim ao mesmo tempo. É bom porque você também acaba conhecendo outras meninas que nem fazia ideia, porque eu sou muito discreta, não movimento muito minhas redes sociais nesse sentido, mas quando comecei a postar, surgiram umas minas que eu percebi que estão na cena, mas não são muitas. Nesse sentido, acaba sendo ruim também não ter alguém para dar um auxílio, para ajudar pegar tal tênis, é como eu falei, a questão do “eu tenho, eu posso, eu consigo” torna o movimento algo muito individual, então eu precisei correr com as minhas próprias pernas.

Acho importante a representatividade porque mostra para outras minas que elas não deixam de ser femininas por conta de um tênis. Eu já fui muito “julgada” porque como disse, eu me inspirava muito na moda masculina, usava calça larga, camiseta larga, então o pessoal não entendia e falava “você precisa ser mais feminina”. Infelizmente eu acabei doando roupas e tênis por achar que eu estava muito “masculina” e aquilo me feriu porque precisei abrir mão do que eu gostava por ouvir o que os outros queriam e não atender a minha própria vontade. Então eu acho importante a representatividade por isso, cada um usa o que quer. 

Coloca seu tênis no pé, seu top, sua calça, coloca sua camiseta e seja você, mantenha sua essência, tenha sua personalidade e não ligue para o que os outros vão falar, aquilo não precisa se tornar parte da sua vida. Seja autêntica e use mesmo!

E é com essa mensagem final da Amanda que encerramos essa entrevista. Agradecemos a você que nos leu até aqui, esperamos que tenham gostado! 

Vejam também o ensaio completo feito para ARTWALK clicando aqui.


26 Mai 2021

A IMPORTÂNCIA DA REPRESENTATIVIDADE NA CENA SNEAKERHEAD

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